Hoje falarei sobre uma pequena empresa independente cujas principais características são a originalidade de seu roster e o alto teor cômico de suas storylines e combates. Esta companhia muito pouco convencional atende pelo nome de Hoodslam, e nas próximas linhas falarei um pouco sobre sua história e seus pormenores únicos. Sem mais delongas, passemos ao artigo;
A Hoodslam foi criada em 2010, pelo lutador indy Sam Khandaghabadi (na época conhecido como The Sheik), na cidade de Oakland, Califórnia. A intenção de Sam era criar uma empresa onde a luta livre não fosse restrita a um mero produto infantil, motivo pelo qual ele quase abandonou a modalidade na época, apresentando um produto totalmente voltado a um público adulto. Para tal, ele chamou vários colegas wrestlers que conheceu em suas viagens pela costa oeste americana para virem até sua residência, a Victory Warehouse, um galpão usado para shows da cena underground de heavy metal. Segundo ele, qualquer tipo de profanidade e obscenidade seriam livremente permitidos na apresentação.
Interior da Victory Warehouse
Assim o primeiro show da Hoodslam ocorreu em abril de 2010, com a participação de 13 lutadores (além do próprio Khandaghabadi), contando com o pormenor de que não foram cobradas entradas para o show, fazendo com que os wrestlers participassem de graça do evento. Sam (conhecido na Hoodslam agora como The Dark Sheik) passou a cobrar entrada para os shows apenas em 2011, e mesmo assim enfrentou tempos de dificuldade financeira alta, tendo inclusive que escolher várias vezes entre a divulgação dos eventos, e comprar comida para si.
A situação da empresa sofreu sua primeira grande mudança em maio de 2011, quando o senhorio da Victory Warehouse começou a reclamar que a agitação da plateia (que havia aumentado bastante) e as festas exageradas realizadas após os eventos estavam atraindo muito a atenção das autoridades locais, e que, portanto, Sheik e seus wrestlers deveriam procurar outro lugar para se apresentarem. Essa situação começou a resolver-se em junho do mesmo ano, quando o slam poet (poeta que participa de competições de poesia) Jamie DeWolf convidou Sam e seu grupo para realizar uma apresentação de 20 minutos em seu show de variedades, o Tourettes Without Regrets, realizada na Oakland Metro Operahouse, uma casa de espetáculos de maior porte.
Oakland Metro Operahouse, atual casa da Hoodslam
O dono do estabelecimento assistiu ao show e, graças a grande popularidade alcançada na apresentação, convidou Khandaghadabi para realizar shows regularmente, em todas as primeiras sextas-feiras de cada mês. Isso aumentou muito a qualidade dos eventos, pois a nova casa da Hoodslam possuía equipamentos de iluminação e áudio melhores que os da Victory Warehouse, além de uma capacidade máxima de 1000 espectadores, dando um ar de profissionalismo maior para as apresentações, sendo os eventos da empresa realizados até hoje nesse local.
O estilo da empresa é algo que pode ser classificado como único. Segundo Khandaghabadi, a principal característica da Hoodslam, é que os wrestlers são livres para fazer o que bem quiserem. Como se trata de um show voltado exclusivamente ao público adulto, não há a necessidade de fazer com que os combates sejam realistas, ou de realizar um espetáculo que seja “amigável” (ou seja, não há a necessidade de fazer algo como a WWE costuma fazer).
Consumo de bebidas alcoólicas, storylines lotadas de humor negro e outros tipos de perversão, personagens completamente bizarros e combates surreais são alguns dos elementos que tornaram a empresa atrativa para lutadores que cresceram como fãs de wrestling, mas que se desiludiram com o formato atual apresentado na WWE, pois aqui não haveria nenhuma espécie de restrição sobre suas atitudes, o tipo de estória em que estão envolvidos, ou a linguagem que utilizam. Tudo é feito para ser o mais fantasioso possível, servindo mais como uma forma dos wrestlers terem um momento de diversão, sem o comprometimento comum às grandes (ou mesmo as pequenas) federações.
Outro ponto interessante é que por muito tempo não era vendido nenhum tipo de merchandising da companhia, justamente porque não havia a necessidade de ter algo apelativo, por não estarem se apresentando para um público jovem. Além disso, outro pormenor notável, é que o principal chant da empresa (e um de seus slogans mais conhecidos) é “Fuck the Fans” (que por sinal também é o nome de uma de suas séries de eventos), uma clara forma de demonstrar que os lutadores estão lá justamente para se divertirem e serem o mais repulsivos e vulgares que puderem, sem se importar com o fato dos fãs entenderem ou não sua “forma de arte”.
Passando ao roster, este é um show à parte. Repleto de personagens bizarros, paródias de wrestlers renomados, personagens de desenho animado (ou banda animada, para os leitores portugueses), séries de TV e de famosas franquias de videogame, os lutadores da Hoodslam esbanjam originalidade e ousadia em suas performances. Dentre seus mais conhecidos “superstars” estão, além do próprio Dark Sheik, nomes como The Stoner Brothers (uma completa sátira aos antigos WCW e WWF Tag Team Champions, The Steiner Brothers), “Broseph” Joe Brody (o ex-participante do Tough Enough AJ Kirsch, que representa um estereotipado rapaz rico e baladeiro), Drugz Bunny (uma paródia ao personagem Pernalonga, sendo mostrado aqui como um coelho gangster dos anos 20, viciado em cocaína), Johnny Drinko (um homem que ganha força descomunal após encher-se de vodka), “Ultragirl” Britanny Wonder (uma “autêntica” heroína das histórias em quadrinhos, ou bandas desenhadas), entre outros.
Além destes, contamos com as “presenças ilustres” de diversos personagens incríveis como Ken, Ryu, Cammy e diversos outros personagens de Street Fighter, Scorpion e Sub-Zero de Mortal Kombat, Xena, a princesa guerreira (sim, a da série de TV), Pooh Jack (uma mistura de Ursinho Pooh e New Jack), Alvin e os Esquilos, Link de The Legend of Zelda, Storm, Rogue e Psylocke dos X-Men, o vilão das estórias do Batman, Joker, entre outros inúmeros “ilustres” combatentes, sendo os mais interessantes de todos Charlie Chaplin, um lutador invisível (isso mesmo, invisível), e Butternuts, uma piñata com forma de cavalo, que possuem um papel semelhante ao de Yoshihiko na companhia japonesa DDT.
Para além do roster próprio da Hoodslam, os shows também contam com a participação de renomados lutadores da cena independente como o atual lutador da LU e AAA, Brian Cage, Christina Von Eerie (a Toxxin da TNA), Shelly Martinez (a Ariel da WWE), o atualmente árbitro da WWE, Drake Younger, e famosos ex-WWE, como Paul London, Brian Kendrick e Gangrel.
A Hoodslam também possui seus próprios títulos, sendo eles o Golden Gig Championship (atualmente em posse de Drugz Bunny) e o Best Athlete in the East Bay Award (atualmente em posse de THE CAUTION(DARK Sheik and “The Talent” Ean Hancement).
O atual Golden Gig Champion, Drugz Bunny
Creio que não haja melhor maneira de definir a Hoodslam do que dizer que se trata de uma completa viagem imaginativa. Com seus shows malucos e personagens menos ortodoxas ainda, esta pequena companhia underground conseguiu fazer-se conhecida e amada pelos fãs de wrestling que procuram por um produto diferenciado da WWE, mas que não esquecem da essência daquilo que é verdadeiramente o wrestling: um grande e incrível espetáculo (com a adição de um pouco de perversão e loucura). Deixo aqui para os leitores a sugestão de procurem conhecer esta empresa, pois mesmo que não apreciem o modo como se apresentam, com certeza se fartaram com a comicidade inusitada que ela possui (acreditem eles apresentam ótimas lutas). Uma boa leitura a todos, e até a próxima.
2 comentários
Write comentáriosBizarro foi um eufemismo? Hahahaha pura loucura. Se objetivo era ter um legitimidade, sabe uma originalidade, eles conseguiram.
ReplyUma***
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